ALBERTO LOPES MENDES ROLLO
por Alexandre Rollo
O querido colega de academia e Procurador Regional eleitoral Luiz Carlos dos Santos Gonçalves me convidou, há uns 50 dias, para escrever algumas linhas em homenagem ao meu pai, para publicação em seu “site”. Agradeci a deferência e me fiz de rogado porque, confesso agora, tinha medo de escrever sobre meu pai, meu chefe e meu professor em razão da emoção que esse tipo de escrita sempre traz. Não queria cutucar a ferida ainda aberta com o seu passamento. Em 11 de maio de 2019 (data deste texto), e data em que meu pai completaria 74 anos (morreu cedo, vítima das deteriorações ocasionadas pelo diabetes), é chegada a hora de atender ao gentil convite do Luiz. Espero que ele ainda aceite o texto, embora o entregue fora do prazo.
Alberto Lopes Mendes Rollo nasceu em Santos, aos 11 de maio de 1945. Filho de Jayme Mendes Rollo e de Deolinda Lopes Rollo, era o mais novo de três irmãos (Álvaro, Aline e Alberto). Em razão da educação muito rígida imposta pelos pais portugueses saiu cedo de casa após ser aprovado, aos 19 anos, em concurso público para o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo. Mudou-se então para a Capital para ficar mais próximo do seu local de trabalho.
Num belo dia, em meio a inúmeros afazeres, seu chefe de então, o hoje saudoso Dr. Fernando Augusto Fontes Rodrigues, lhe diz o seguinte: - Alberto, vá lá no balcão atender aquelas moças.
O jovem Alberto, ao ver a iluminada beleza das figuras que esperavam atendimento, deu um pulo da cadeira e, mais rápido que Usain Bolt (na década de 60 do século passado o velocista sequer havia nascido), cuidou daquele atendimento. Costumo brincar nas minhas aulas sobre alistamento eleitoral que esse tema é aquele que mais me agrada. Isso tem uma explicação. É que uma daquelas moças que aguardavam atendimento no balcão da Justiça Eleitoral tornou-se, futuramente, minha mãe já que, durante o atendimento, o jovem funcionário da Justiça Eleitoral memorizou o telefone fornecido por aquela moça bonita para, dias depois, ligar para ela de um orelhão (naquele tempo isso ainda existia), convidando-a para saírem. Conversa vai, conversa vem, casaram-se em 1967 e, desta união que durou quase 50 anos, nascemos os meus dois irmãos e eu.
Ainda na escola, durante o “científico”, o meu pai se destacou. Era sempre o primeiro aluno da turma do Colégio Santista e, por conta disso, colecionou várias medalhas guardadas até hoje, mesmo “matando” algumas aulas para acompanhar os treinos de um tal Edson Arantes. Também durante a juventude frequentou aulas de inglês e francês (entre um treino e outro daquele magnífico time de todos conhecido), línguas nas quais era fluente. Como tinha facilidade com línguas, ainda se virava muito bem no espanhol e também no italiano. Concluiu sua faculdade de Direito na Católica de Santos, formando-se ainda em Economia e em Administração de Empresas.
Como funcionário do TRESP não permaneceu tanto tempo. Logo foi advogar. Incialmente, em conjunto com alguns colegas da faculdade, montou um escritório no Ipiranga. Após alguns anos, passou a advogar sozinho, em escritório próprio na Vila das Mercês. Nesse escritório acolheu seus três filhos que resolveram seguir a profissão do pai.
Destacou-se na área do Direito Eleitoral em razão de sua inteligência, da sua atuação anterior no TRESP e porque, na década de setenta do século passado, não era muito difundida essa área do Direito. Ainda no tempo do Diário Oficial no papel era assinante do periódico, acompanhando todas as decisões da Corte Eleitoral Paulista em razão da leitura atenta do Diário Oficial. Sabia tudo o que se decidia lá e, como tinha todos os casos do escritório na memória, sempre recortava algum precedente para o escritório utilizar em algum caso concreto nosso.
Ao longo de sua atuação no TRESP teve alguns embates firmes (nunca desrespeitosos), com Magistrados e Procuradores Eleitorais (algo que não aconteceu com o Luiz Carlos que já o pegou no final da carreira e que sempre gostou, ainda não sei exatamente por que, do meu pai). Fazia isso na defesa intransigente de seus clientes. Em alguns momentos se prejudicava por conta disso. Na OABSP foi duas vezes Conselheiro Secional sendo que, em sua primeira gestão, ocupou a Presidência da Comissão de Direitos e Prerrogativas (1998/2000), tendo, nessa mesma gestão, fundado o primeiro Núcleo de Direito Eleitoral que se tem notícia no seio da OAB (atualmente Comissão de Direito Eleitoral). Com os (as) colegas Advogados (as) era sempre atencioso e gentil, garantindo espaço a todos, mesmo sendo todos concorrentes na mesma área de atuação.
Já no final de sua carreira era uma unanimidade entre os colegas. Alberto Lopes Mendes Rollo merecia um reconhecimento público e em vida, da Justiça Eleitoral, através da outorga do Colar do Mérito Judiciário Eleitoral. Era algo que ele realmente queria (até por merecimento em razão dos longos anos dedicados à Justiça Eleitoral como funcionário e como Advogado). Infelizmente, até por conta de sua atuação firme e às vezes não muita simpática na defesa de seus clientes, não conseguiu esperar vivo a homenagem, que veio póstuma e que acabou sendo recebida pela minha mãe Janine, também Advogada.
O que eu aprendi na advocacia foi com o meu pai (nos 26 anos que trabalhei com ele). Advogado íntegro, sério, inteligente e dedicado a seus clientes. Descanse em paz meu pai, você faz muita falta, feliz aniversário, te amo sempre."
Nota: a Cachaça Eleitoral está aberta para publicar textos belos e sensíveis como este, a trajetória de um grande e querido eleitoralista, o Dr. Alberto Rollo. Envie seu texto para exame: acachacaeleitoral@gmail.com